quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Então agora

E agora vem você me ignorar? 
Depois de perguntar sobre meu dia
De mandar selfie e descrever sua rotina
Me viciar nas músicas que me enviou
Sem ao menos me dizer alguma coisa
E agora vem você me ignorar
que precoce o encantou acabou

E agora que a sua foto não está mais aqui
Nem o seu rosto eu vejo mais
O arremedo de proximidade se esvaiu
Nem parece que acordei com a sua voz
Que vivemos pele intensa sem mediação 
E agora que a sua foto não está mais aqui 
Junto com o que achávamos de nós

E agora que eu não sei mais o seu nome
Porque aquele parece estar em outra boca
Nem parece que sua perna já abraçou meu desejo
Ou que nós já existimos em intensidade
Ontem já faz tanto tempo que nem sei
E agora que eu não sei mais o seu nome
O espelho sempre me condena a insanidade 

E agora que a felicidade se apresenta
E se revela não exigir nada de mais
Nada do que não fôssemos capazes
Quando adormecíamos um dentro do outro
E que as noites pareciam não ter fim
agora que a felicidade se apresenta
Eu pareço não existir a não ser louco

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Escolhas

Eu, como você, fiz escolhas
Ora certas, ora erradas
As certas sempre silenciosas
Não avisam que estão ali
Nem que resultaram da boa escolha
As certas te fazem achar que tem pouco
Porque não se mede a falta que faz aquilo que você ainda não perdeu
As certas te fazem feliz, claro
Mas você nem considera que a felicidade venha de lá
Elas têm curta duração
e é esse o desafio
Resistir ao teste de fazê-las mais uma vez
Não duvidar que essas escolhas são o que melhor você pode sentir

Das escolhas, as que marcam são as erradas
Deixam cicatrizes e lacinam
Avisam que você sente o resultado do que quis, do que escolheu
Não te permitem esquecer que outra escolha era possível
Que teu choro é legítimo, mas é todo teu
Que errar, muitas vezes, é voluntário
E que você sempre perde com as escolhas
Mas o que se vai com as erradas dói sempre muito mais
Elas levam embora essência
Levam parte da história que você deveria viver
Por isso doem de uma forma quase hipotética
Doem pelo que foi, pelo que é e pelo que seria
Sangram a alma do forte, para testar a resistência da lucidez
Avisam que a sua escolha emancipou o outro
Te aprisiona para libertar alguém
E se te liberta, faz desnudar a realidade da liberdade:
Senão efêmera, vã e passageira, é medida pelo tamanho das correntes