domingo, 26 de setembro de 2010

As ideias de certa vez

Certa vez, convidei uma idéia para entrar na sala de meus pensamentos. Antes que eu mencionasse o café, ela lhe preparou uma boa xícara e começou a arrumar tudo ao redor como lhe convinha. Parecia desconhecer as paredes do super-ego, da vergonha, dos limites e dos próprios pensamentos (acuados pela rotina que os engole).
Logo vieram novas idéias, as suas fiéis companheiras, tão boas quanto a primeira a visitar os campos outrora atrofiados do meu intelecto. E mesmo as deixando à vontade para qualquer visita, poucas são as que assim o fazem. Muitas ainda o farão, desde que as portas da imaginação estejam abertas para o trânsito tão agradável destas ilustres convidadas.
Ter nos estoques e nas despensas de nossa mente um bom alimento para estas nobres visitantes pode nos garantir a prática da crítica, da reflexão, do novo, por que não? Sem a garantia de que só as boas virão. Afinal, más visitas aparecem de vez em quando e nós precisamos saber lidar com elas, seja da forma receptiva ou não.
Pensar de maneira limítrofe a mesmice, beirando a trilha perigosa do rotineiro em excesso, não nos possibilita crescer. Pelo ao menos não em qualidade, somente em quantidade. Mas quem assegura que pensar muito seja pensar bem? Pensar para o bem.
As novas idéias, boas ou ruins, oxigenam os espaços sufocados do pensar. Não que as idéias atropeladas pelo tempo sejam dignas de esquecimento, mesmo porque o advento do novo não nos obriga a esquecer o velho. Mas que os aposentos destinados às velhas idéias sejam constantemente frequentados pela renovação.
Como diria Lya Luft: “pensar é transgredir” e permitir a entrada das idéias em nosso dia-a-dia nos faz progredir, nos possibilita uma nova visão do que nos circunda. Afinal, enxergar o mundo da mesma forma que todos pode ser mera coincidência, mas pensa-lo da mesma forma que todos é pura preguiça.

Norhan Sumar
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As ideias de certa vez de Norhan Sumar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O sentimento, o ato e o hiato entre os dois

É de se esperar que esse assunto, quando discutido, seja polêmico. Principalmente quando defendido de um lado por homens e do outro por mulheres. Não é política, tampouco religião, quero novamente abordar os relacionamentos humanos. Como diria a roqueira dos cabelos vermelhos: “amor é divido, sexo é animal.” O que não os tornam somente bons ou ruins.
Esse trecho da música Amor e Sexo, composta por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, assim como tantos outros versos desta mesma letra, coloca o amor em uma posição de mais garbo em relação ao sexo. Talvez isso seja apenas a representação do que realmente acontece na sociedade. Embora eu ache o ser humano muito mais animal do que divino. Neste caso, combinando muito mais com sexo do que com amor.
O amor, desde sempre encarado como sentimento, foi transformado em ato. E nos dias atuais as pessoas o “fazem”, ou acham que fazem. O sexo, desde sempre tido como ato promíscuo cuja intimidade necessária para que ele acontecesse era considerável, tornou-se tão difundido na sociedade, que sua prática não é discutida e criticada, mas sim a ausência dela.
Há quem diga que a independência dessas práticas/sentimentos está aquém das nossas vontades e pretensões. Mas há quem diga que exista uma dependência entre as duas coisas que as tornam “vazias” se não vividos conjuntamente. Eu acredito que amor e sexo, se vividos concomitantemente, elevam o relacionamento a um patamar diferenciado. Mas é inegável que possamos amar amigos, família, utensílios, sem que haja sexo nessas relações. Na realidade, o sexo sem amor existe e é muito bom, o sexo com amor é ainda melhor e o amor sem sexo, se não for família ou amizade verdadeira, está a poucos passos da relação sexual. Portanto, cuidado (ou não).
No decorrer de conversas entre amigos, geralmente me parece que o sexo sem a obrigatoriedade de comprometimento com o amor é muito mais satisfatório. Talvez porque ainda haja uma barreira/diferença entre as duas coisas para algumas pessoas (homens). E isso explica a procura incessante, na rua, de um sexo que complete o amor vivido dentro de casa. Mas, no decorrer de conversas entre amigas, geralmente o que mais agrada no momento do coito é o sexo ávido, aguerrido, voraz, conservando os instintos animais contidos em cada um. Isso explica a procura incessante das mulheres por homens que, ao contrário de seus parceiros, não acham que fazer amor seja fazer somente carinho, que quando se ama, o sexo precisa ser delicado e respeitoso. Esse ruído na comunicação entre os casais, advindo do distanciamento entre amor e sexo, acaba fazendo com que relacionamentos caminhem por estradas tortuosas da dúvida, vivendo de conceitos vãos e retrógrados.
Felizmente, em pleno terceiro milênio podemos viver tranquilamente, com as devidas medidas de prevenção, as experiências cinestésicas e prazerosas do sexo sem amor, sem afeto, sem compromisso com quaisquer sentimentos, perpassando pela saciedade dos nossos desejos. Entretanto, se soubermos associar ao nosso sexo o velho romantismo, com direito a paixão, amor e todas as suas variações, viveremos a transa de maneira mais intensa e completa. O que se precisa é aceitar o sexo como uma das várias práticas estabelecidas pelo relacionamento humano, desmistificando a sua existência na ausência do amor, do matrimônio, dos afagos ao âmago do nosso ser, mas o encarando como ato prazeroso, por vezes desagradável, é claro, mas extremamente natural à nossa existência.
           Sendo assim, ficam as dúvidas: como comparar um sentimento como o amor com um ato como sexo? Como estabelecer uma relação de proximidade entre as duas “coisas” sem deixar que cada uma perca sua essência e especificidade? Não sei. Mas, felizmente, hoje em dia, podemos discutir abertamente sobre os dois, sem sermos repelidos pelos moralistas que pareciam não praticar nem um nem outro.

Norhan Sumar
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O sentimento, o ato e o hiato entre os dois de Norhan Sumar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O namoro que eu não quero

É comum que tenhamos em nossas rodas de amigos, colegas, conhecidos, os seguintes comentários: “mas ela me liga toda hora”, “ele quer saber onde eu estou e nunca acredita quando eu respondo”, “ela é muito ciumenta”, “é só uma cervejinha com os amigos, ela entenderia”, “ele pega no meu pé, eu não posso nem conversar com outro homem”, e por aí vai, uma lista imensa de comentários sobre estes felizes e bem sucedidos relacionamentos.
Sei que escrevendo sobre os relacionamentos humanos, estou susceptível a opiniões diversas, ao encontro ou de encontro ao que aqui exponho. Mas esclareço desde já que não generalizo nunca, não desacredito o sentimento de ninguém e não nego que posso amanhecer namorando alguém por quem acredito estar perdidamente apaixonado após apenas três encontros (como já fiz).
O fato é que, ultimamente, a banalização do namoro tem me deixado um tanto quanto incomodado. E olha que nem precisamos falar da antiga e agora considerada “falida” entidade que chamamos de casamento. Fiquemos no campo do mais simples, do mais palpável para mim, que já namorei e conheço bem as cobranças infundadas e aprofundadas do namoro, que não nos acometem na “solteirice”.
Partindo de um pensamento lógico, o namoro seria um treino para o casamento, um teste de afinidade e confiança, uma prova de convivência que precede anos ao lado de uma mesma pessoa, partilhando de alegrias e tristezas. Certo? Pois é, concordo com isso tudo, mas como disse: precisa-se de “alegrias e tristezas” a serem partilhadas. Só as preocupações, discussões, cobranças, ciúmes e afins, não me satisfazem como combustível para gostar de alguém (mesmo que o sexo seja uma maravilha... Embora seja o suficiente para muitos); as cobranças, se fundamentadas no campo do sentimento, pautadas, quiçá, na insegurança de alguém que te gosta e não quer te perder, beleza. Mas as cobranças corriqueiras, que permeiam TODOS os hábitos e afazeres do pobre coitado, são demais para mim; preocupar-se com alguém não te dá o direito de viver por ele/ela, tampouco de querer impedir que o outro tenha suas próprias experiências. Afinal, um casal representa duas vidas, não uma só; ah, tem o ciúme, o famigerado ciúme. Desse eu gosto! Não, não é loucura de minha parte! Acredito que se “bem dosado” e “cuidadosamente” exposto, ele pode contribuir para “apimentar” a relação. Mas se você o tem de forma doentia, persegue o(a) outro(a) como se fosse a Beyoncé ou o Brad Pitt, acha que TODOS estão olhando na direção dela(e) e que ela(e) retribui a esses olhares. Aí complica. Não penso que seja ruim estar ao lado de alguém que é desejado por outros. Ou então, namoraria a Elza.
Ter um namoro que me permita apenas discussões, fadigas desnecessárias, me afasta dos amigos e da minha própria vida, só me traz problemas que eu não teria se fosse solteiro. Eu não quero, obrigado! Até porque, foi-se o tempo em que tínhamos o hábito frívolo de confiar a apenas uma pessoa a nossa sexualidade e desejo, foi-se o tempo onde ser solteiro era uma "anomia social" que te forçava a “colar” com a primeira criatura que aparecesse. A sociedade moderna, felizmente, não recrimina mais o “solteiro por opção”, ou por falta de opção.
Eu espero não ser dominado pela minha insegurança, pela incapacidade de não ouvir “eu te amo” todos os dias (para isso eu tenho amigos), ou de ter alguém para ligar avisando que cheguei ou avisando que vou a padaria comprar chiclete. Espero não embarcar na nau duvidosa do medo da solidão, pois é com ela que nos descobrimos mais e mais.
Se for para ter um namoro superficial, onde a confiança (o pilar mais importante em qualquer relacionamento entre seres humanos) é quase nula ou não existe; se for para namorar com intuito ter alguém para andar de mãos dadas; namorar por auto-afirmação e vontade de saber que sou bem quisto por alguém, eu prefiro continuar solteiro. Estar solteiro não significa estar sozinho ou mal acompanhado. Significa, no meu ponto de vista, valorizar o namoro como o primeiro passo para uma vida a dois e não uma brincadeira de fingir que gosta de alguém.

Norhan Sumar
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As nossas luas

É realmente encantador olhar para o céu e ver que as boas-vindas são dadas por ela. Pois quem nunca se pegou admirando a lua? Quem não se rende às suas formas atraentes de tamanho charme e luz? Quem de nós, vez por outra, não pára e esquece os afazeres a contemplar sua presença entre as estrelas?
A lua e sua beleza, imortalizada por grandes poetas e compositores do Brasil e do mundo, encanta e sempre encantará a grande maioria dos que olham para o céu a sua procura. Mas me surge uma dúvida intrigante nesse momento: Será que alguém lembra, mesmo que sejam os louváveis e bem-sucedidos poetas, que por trás das curvas perfeitas e desenhos milimétricos existe algo/alguém a emprestar parte do que torna tudo isso possível: a luz?
Sem o empréstimo amigável de luz advindo da estrela central do nosso sistema solar, a lua conservaria as suas formas, mas passaria despercebida aos olhos curiosos que rasgam os céus em busca do ar de sua graça.
Por isso me ponho e proponho a escrever este texto, pois acredito que assim seja a nossa vida. Repleta de sol e luas, que de maneira louvável ou não, utilizam da luz alheia para darem formas visíveis às suas características.
Muitas vezes, sem a luz de uma mulher, de um companheiro, não conseguiríamos nos fazer visíveis, nem imponentes o bastante; sem os amigos a nos emprestar luz ou mesmo tomarem emprestadas um pouco da luz que carregamos, não seríamos vistos, quiçá admirados; sem a luz trazida pela família, que como o sol, nos doa luz sem necessidade de contrapartida, sem obrigatoriedade de devolução, não seríamos fortes a ponto de nos fazermos refletir na menor das poças.
Cabe-nos então, posicionarmos essas fontes de luz de maneira a nos favorecer. Podemos ser luas novas, e sermos vistos em raros momentos; podemos deixar que vejam pouco de nós, como as luas minguante e crescente; ou talvez façamos como a lua cheia e deixemos que nos admirem por inteiro, com nossas formas a mostra, dando nossa cara à tapa e nossas atitudes à crítica. O que realmente importa é que saibamos que sozinhos, podemos ser uma lua sem o sol, esquecida num espaço muito maior do que possamos imaginar, sem sermos vistos e admirados, sem sermos lembrados ou criticados. E, se esta for a nossa opção, o seja a nossa opç admirados, sem sermos lembrados ou criticados, e desde que essa no maior do que possamos imaginar, do nossa tenhamos sabedoria para manter na distância correta as nossas melhores fontes de luz.

Norhan Sumar
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Elas, flores, elas espinhos...

Nós mulheres, somos puro aroma de flor, dotadas de espinhos, nos quais os homens não sabem como tocar. No final, eles sairão sangrando... E nós apenas sujas com seu próprio sangue...." 

Belas como uma dama de vestido vermelho...

Por: Bonitos...
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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que mal há?

Que mal há em estar “satisfazido” quando se acaba de comer?  Ou ter “trago” algo que deveria ter trazido? Quiçá ter “vido” algo que deveria ver?
Quão ruim pode ser não saber “gramaticar” perfeitamente, mas estar contente com a lasca de carne que se tem entre os dentes? Se é cobrado dos que tiveram “menas” chance, porque não cobrarmos dos que tem menos vontade de mudar mesmo que tenham nas mãos o poder?
Ah, pois então que “seje” mais cobrado a perfeição na verborréia da nossa língua pátria, ainda que a “própia” pátria não seja exemplo de perfeição para quem representa o seu crescimento através do trabalho.
Tamanha “hipocresia” me parece “meia” demasiada. O que se espera dos brasileiros? Quem são os brasileiros? Nascer aqui faz de “eu” um cidadão? Sei lá, quem sabe? Talvez esse seja um dos vários direitos que um cidadão de fato adquire ao nascer. Talvez esse nosso solo generoso aos tantos e as tantas, perdoe facilmente uns dinheiros aqui e “aculá”, uns desvios do nosso pão prestes a adentrar a cavidade oral de um escolar, diretamente para o bolso de um bem vestido e letrado político.  
Pior do que a falta de algum “s”, algum “r” no lugar do “l”; pior do que a falta de um discurso de garbo, dotado das mais nobres regras gramaticais desse nosso português, é a falta de caráter. Pior do que não saber falar, é não saber o que falar.
Não culpemos os que falam à sua maneira, errônea ou não, pela falta da concordância verbal. Culpemos a todos nós, que optamos por viver alheios aos problemas que nos circundam, que temos a chance de fazer as escolhas que determinarão o futuro verbal e vital dos que ainda estão por vir. Culpemo-nos por fazer tão pouco diante do tanto que poderíamos fazer. E, além disso, observar, como espectadores sedentários e sensacionalistas as tantas mazelas em que nossa sociedade se afunda, ousando, sem o mínimo esforço e conhecimento de causa, sugerir os caminhos para mudança.
                                              
                                                                                  Norhan Sumar  
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