domingo, 24 de abril de 2011

Proximidade distante


A vida te sorri o dia, ainda que esteja escuro. A morte carrega a indumentária fria, arrastada pelas lágrimas e lamúrias dos que não estão dispostos a receber sua visita.
As duas, tão próximas e tão distintas, separadas pela linha tênue que pode representar o último suspiro; de mãos dadas, elas nos observam, selecionando criteriosamente um a um os que farão parte de seus seletos times.
A vida nunca é privilégio de um só. Existe a família, os amigos, os inimigos, os clientes, os fornecedores – olhares que esperam enxergar em você a vida. Altruísta por si só. Já a morte, solitária, te tira sem possibilidade de negociação o mais basal dos direitos: existir. Almas e crenças a parte, foi-se o corpo, foi-se o que chamamos de vida. “Vivemos” a morte sozinhos, deglutindo a sua presença como quem tenta se deliciar com um pão velho sem o benefício da mastigação e ajuda da água. Amarga, mesmo quando vem cessar o sofrimento de viver nas piores condições.
A morte, inevitável, ainda assola o sono de quem acha que tem vida. Preocupamo-nos com o vento frio que trará a morte sem nos dar conta que o acalento da vida só entra na sala de estar do nosso peito se for convidada. Não é preciso de vida para simplesmente existir; mas é preciso se permitir para que haja vida.
Não se deixe levar pelo pesar de precisar negociar com a morte momentos a mais de suspiros falsos e sorrisos forçados; ela não te dará muitas opções. Negocie com a vida todos os sorrisos e desejos que te conduzem a satisfação e alegria, sempre que puder. Para que quando a vida sair de cena, você não precise permanecer no palco tentando um papel sem luz, de cortinas fechadas se a morte trouxer o final da história.
Norhan Sumar

terça-feira, 19 de abril de 2011


Venho buscando uma pluralidade autoral no blog. Até porque o pensamento não é um privilégio meu.
Se você pensa no papel, se aprochegue!
Eis abaixo mais um pensamento de um ilustre personagem que pinta os momentos em sua companhia com uma miscelânea de cores capaz de torna-los inesquecíveis!

Sinto meus pés perdidos, talvez cansados... alguma coisa sobre a qual possa escrever.
É triste quando se perde o brilho da vida, ele passa por você e logo tudo escurece.
Dê tempo ao tempo e ele passa correndo por você.
Nada é tão simples como nos livros ou nos filmes...
Nada é tão divertido como nas músicas...
Mas ironicamente a tristeza é deveras semelhante.
E tudo isso cabe em papel, singela e assustadoramente, tudo que vem de dentro, tudo que é esmagado pelo mundo aqui fora, pensamentos estranhamente torturados, criticados por vaidade...
Meu tempo é quando...
A tristeza me parece tão boa e inspiradora companhia, um gole, um trago e logo me vêm à luz...
Orgias de julgamento, orgias de medidas... a solidão me parece a mais agradável companhia num mundo onde as pessoas desesperadamente buscam a pluralidade, redes sociais, comunidades e adjacentes... querem se encontrar.

Por Raphael Andrade

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Entrega


Ao me entregar os seus versos
e seu gostar submerso nos melhores desatinos
Tal a chamar meu apreço
pra eu gostar dos avessos dos nossos destinos

Ao me entregar seus desejos
e seu beijo ilustrar os meus olhos fechados
Mal sei calar o que vejo
e se calo almejo seu corpo ao meu lado

Por me entregar os seus gostos
e seu rosto a corar com os meus elogios
Tal a amar o disposto
eu afronto o imposto e me lanço a gozar de seus lábios macios

Por me entregar só de alma
e na calma a certeza do vento a te trazer
o coração a bater numa salva de palmas
No palco da minha paixão o espetáculo é você

Norhan Sumar

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Uma homenagem através d'outra homenagem: 
Habilidade com as palavras e com os fatos, apresentados abaixo com maestria pelo contador da referida estório/história (como quiser).
Um prazer imensurável poder expor suas palavras por aqui, amigo!
Deliciem-se.

Ps.: qualquer semelhança com alguma história que vocês conheçam pode ser mera coincidência!
 
“ Vou te contar a história de um grande amigo que conheci nos tempos de colégio. O rapaz levava sua vida tranquila na pacata Petrópolis, onde fazia sua faculdade, tinha sua família, sua linda sobrinha, além de suas dezenas mulheres. Certo dia resolveu aventurar-se numa grande cidade, a saber, Curitiba. O rapaz estava acostumado a andar de trem na sua cidade, além das charretes dos cicerones nos fins de semana, com as quais visitava os pontos turísticos daquela pequena terra, que nos primórdios era apenas um conjunto de três fazendas. Alias, visitar casas velhas, com odores estranhos e quadros mal assombrados era o único divertimento da população. Na despedida para Curitiba convidou seus amigos para um encontro na pracinha da cidade, onde ao lado da mesma havia um barzinho. Nesse barzinho reuniam-se sempre pessoas sem destino na vida, tais como os bêbados, os viciados, os desviados e as desviadas. A despedida foi marcante, muito choro, muitos abraços, tudo o que merecia aquele fiel e escudeiro amigo de todos. No dia de partir, ao pegar um ônibus, algo que ele nunca havia entrado, para a Cidade Maravilhosa, sentiu todos aqueles frios na barriga. Nas 4 horas de viagem até o aeroporto da cidade, devido às tempestades do verão e tudo o que elas acarretam , esbravejou solilóquios devido à ansiedade, deixando os passageiros do referido meio de transporte assustadas. Na chagada ao aeroporto, nunca havia o rapaz visto algo tão magnífico. Na verdade o que mais o impressionou foi o tal do bebedouro, além de ficar tentando derreter o gelinho no mictório. Na entrada do avião teve que ser carregado para o seu assento, onde esperou até passar por cima do Maracanã, local que só conhecia de nome, e depois correu para o banheiro. Reza a lenda que só saiu de lá quando chegou ao solo firme e que três rolos industriais de papel foram utilizados. Depois de todo o ocorrido, ele leva sua vida na tal grande cidade. Deixou saudades aos amigos, mas todos sabem que tudo isso será muito bom para ele. Afinal de contas, descobriu o que é um viaduto, um sinal de trânsito, aprendeu a falar perguntando e deu três dias a mais de trabalho para a equipe de limpeza da empresa do avião, gerando emprego e renda!”

Rodrigo Rocha (Rood)

sábado, 9 de abril de 2011

Tal como a distância aproxima o amar da rima
a saudade ensina que contra o mar não se rema
e vale a pena a angústia das esperas
praquele que busca no verso o que sente deveras
Norhan Sumar

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quando a gente sente

Quando a gente conversa contando casos, besteiras
tanta coisa em comum
deixando escapar segredos...

Quando a gente atravessa nadando os mares, fronterias
tanta coisa em comum
deixando pra trás os medos....

Quando a gente se depara na pressa cantando a esmo, momento
tanta coisa em comum
deixando aflorar o apego..

É que a gente percebe chegando voraz, sentimento
tanta coisa em comum
e manda embora o sossego

(Bebel Gilberto & Cazuza (1ª estrofe))
Norhan Sumar