Theodoro sempre corria por lá. E com a mesma freqüência com a qual ele corria, era observado por Vanessa. Dessa vez fazia um sol convidativo de inverno, a praia não estava muito cheia por se tratar de uma quarta feira de agosto. Estava, como sempre, trajando uma camiseta branca, daqueles tecidos que facilitam a transpiração, shorts pretos, meias cano alto e um tênis branco que parecia ter sido projetado para ele. No seu Ipod o Djavan ditava o ritmo de suas passadas. Theo, como preferia ser chamado, não gostava de músicas muito agitadas para correr.
Voltemos a Vanessa. Uma jogadora de vôlei de praia profissional, loira, e alta como o de costume nesse esporte. Havia notado Theo há algumas semanas, com sua altura que superava 1.90M, cabelos negros e formas atraentes. A concentração se perdia, as bolas chegavam á areia antes que ela pudesse impedir, para a loucura tempestiva do seu treinador. Era uma mulher muito atraente e nunca tivera problemas para conquistar o homem que lhe despertasse o desejo. Aquela seria só mais uma investida.
Ele diminuiu as passadas, parou o tempo no seu Nike SportWatch GPS e começou seu alongamento para encerrar mais uma de suas corridas matinais. Ela já sabia que ele faria isso, ele era metódico. Sentou-se em uma das mesas do quiosque e ficou observando a disposição muscular daquele homem em cada movimento que fazia. Dali, a cerca de três metros dele, ela achou que seu bíceps parecia um pouco maior e suas coxas denunciavam a sua rotina de corrida. O corpo de Vanessa estava quente e ela já pensava naquele homem a envolvendo com a força que parecia ter e sua nuca se arrepiou seguida de um tremor que certamente não era por conta do frio.
Theo já havia percebido a presença dela. Percebera também que ela trajava a indumentária de uma atleta e seu corpo não a deixava mentir. Ela usava brincos e tinha as unhas pintadas, mesmo ainda estando suada por ter acabado de deixar a quadra de treinos. Não passou em branco aos olhos de Theo que ela havia refeito o rabo de cavalo em seus cabelos. Sentou-se e esperou que aquela linda loira seguisse com seu plano de aproximação, que estava explícito.
“Bom dia! Posso sugerir uma reidratação com reposição de eletrólitos? A julgar pelo suor, acredito que tenha corrido bastante.” Sem rodeios a mulher falou se aproximando de Theo que a observava calado.
Ele sorriu, o que a fez arrepiar novamente. Ela adorava essa sensação que precedia o sexo. “E você acha que somente água não é capaz de reidratar um atleta?” Rebateu Theo.
“Só estava disposta a te deixar melhor preparado para uma próxima rotina de exercícios que possa eventualmente acontecer.” Enquanto a mulher falava, Theo se levantou e puxou uma das cadeiras para ela. Com um gesto ela agradeceu e continuou. “À propósito, meu nome é Vanessa.”
“Theo, prazer!” Dessa vez, ele notou que o rosto da mulher estava mais vermelho que o normal e optou por poucas palavras.
A conversa continuou quase como um duelo, com investidas ofensivas da mulher cujas pernas pareciam merecer um seguro contra sinistros e respostas evasivas do atleta amador que mantinha a boa forma correndo diariamente na Zona Sul Carioca. Ela, completamente envolvida com aquele bíceps rijo cada vez que Theo passava a mão nos cabelos negros, mal percebeu que ele estava sendo somente educado e não envolvido.
“Estou esperando alguém. Marcamos aqui para almoçarmos juntos.” Falou Theo, sem parecer embaraçado com a situação.
E como só acontece nas telenovelas e contos, nesse instante duas mãos cobriram os olhos de Theo e uma voz decidida pediu para que ele adivinhasse quem era.
Agora Vanessa estava com o rosto totalmente vermelho. Sentia suas bochechas tão quentes que poderia arriscar que queimaria as mãos ao encostar em si mesma. Não conseguiu esconder que estava trêmula quando com a mão direita pegou seu suco de abacaxi com hortelã para tomar um gole e evitar a necessidade de algum comentário.
Theo, com seus gestos calmos e atraentes, ainda arrancando suspiros e arrepios de Vanessa, se levantou e fez as honras. Ainda segurando as mãos que cobriam seus olhos há pouco, apenas encostou os lábios nos lábios do recém chegado. “Oi amor, já estava ficando preocupado.”
Olhou para Vanessa e percebeu seu desconforto. Mas como seu namorado não permitia mais que um selinho em locais públicos, para evitar os olhares curiosos que ainda insistiam em incomodar, ele continuou: “Esse é Fred, meu namorado. Essa Vanessa, uma amiga de exercícios, amor.” Esperou que os dois se cumprimentassem, com o sorriso sem dar uma folga para os músculos de seu rosto, prosseguiu: “Até mais, Vanessa. Nos vemos por aí!”