quinta-feira, 28 de maio de 2020

Da janela

É tempo de olhar pela janela 
a vida que passa 
a morte também 
os vizinhos e seus cachorros 
seus carros e seus nenens
seus descasos sem acasos
a hora marcada de seus améns

É tempo de olhar pela janela 
da alma de nós 
dos outros também
de egoísmos e solidão
dos iPhones e seus reféns 
dessa ausência de diálogo
dessa terra de ninguém

É tempo de abrir as janelas
olhar direito para o mundo
dos sujeitos deitados na rua
dos direitos alijados 
de cada fração encontrar a sua
para desfazer o estrago 
de gente comer e gente que nunca

Não basta mais abrir a janela
Há de pisar no chão
melhor que seja descalço
sente que é frio como coração 
do patrão companheiro falso 
que passeia com a mão invisível
e calcula o preço do seu estrago 

É tempo de esquecer as janelas
e derrubar paredes, se preciso
ignorar as fronteiras
e os limites seletivos de sempre
que nos repelem para a beira
situam à margem como castas 
e nos concedem a xepa da feira

É tempo de olhar as nossas janelas
Agora de fora para dentro
Sair da gente
Para que o outro esteja 
Aproveitar a tragédia como ensejo 
Para então encurtar distâncias
Multiplicar (saciar) desejos

Norhan Sumar

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