É tempo de olhar pela janela
a vida que passa
a morte também
os vizinhos e seus cachorros
seus carros e seus nenens
seus descasos sem acasos
a hora marcada de seus améns
É tempo de olhar pela janela
da alma de nós
dos outros também
de egoísmos e solidão
dos iPhones e seus reféns
dessa ausência de diálogo
dessa terra de ninguém
É tempo de abrir as janelas
olhar direito para o mundo
dos sujeitos deitados na rua
dos direitos alijados
de cada fração encontrar a sua
para desfazer o estrago
de gente comer e gente que nunca
Não basta mais abrir a janela
Há de pisar no chão
melhor que seja descalço
sente que é frio como coração
do patrão companheiro falso
que passeia com a mão invisível
e calcula o preço do seu estrago
É tempo de esquecer as janelas
e derrubar paredes, se preciso
ignorar as fronteiras
e os limites seletivos de sempre
que nos repelem para a beira
situam à margem como castas
e nos concedem a xepa da feira
É tempo de olhar as nossas janelas
Agora de fora para dentro
Sair da gente
Para que o outro esteja
Aproveitar a tragédia como ensejo
Para então encurtar distâncias
Multiplicar (saciar) desejos
Norhan Sumar
Norhan Sumar
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