terça-feira, 21 de setembro de 2010

O sentimento, o ato e o hiato entre os dois

É de se esperar que esse assunto, quando discutido, seja polêmico. Principalmente quando defendido de um lado por homens e do outro por mulheres. Não é política, tampouco religião, quero novamente abordar os relacionamentos humanos. Como diria a roqueira dos cabelos vermelhos: “amor é divido, sexo é animal.” O que não os tornam somente bons ou ruins.
Esse trecho da música Amor e Sexo, composta por Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, assim como tantos outros versos desta mesma letra, coloca o amor em uma posição de mais garbo em relação ao sexo. Talvez isso seja apenas a representação do que realmente acontece na sociedade. Embora eu ache o ser humano muito mais animal do que divino. Neste caso, combinando muito mais com sexo do que com amor.
O amor, desde sempre encarado como sentimento, foi transformado em ato. E nos dias atuais as pessoas o “fazem”, ou acham que fazem. O sexo, desde sempre tido como ato promíscuo cuja intimidade necessária para que ele acontecesse era considerável, tornou-se tão difundido na sociedade, que sua prática não é discutida e criticada, mas sim a ausência dela.
Há quem diga que a independência dessas práticas/sentimentos está aquém das nossas vontades e pretensões. Mas há quem diga que exista uma dependência entre as duas coisas que as tornam “vazias” se não vividos conjuntamente. Eu acredito que amor e sexo, se vividos concomitantemente, elevam o relacionamento a um patamar diferenciado. Mas é inegável que possamos amar amigos, família, utensílios, sem que haja sexo nessas relações. Na realidade, o sexo sem amor existe e é muito bom, o sexo com amor é ainda melhor e o amor sem sexo, se não for família ou amizade verdadeira, está a poucos passos da relação sexual. Portanto, cuidado (ou não).
No decorrer de conversas entre amigos, geralmente me parece que o sexo sem a obrigatoriedade de comprometimento com o amor é muito mais satisfatório. Talvez porque ainda haja uma barreira/diferença entre as duas coisas para algumas pessoas (homens). E isso explica a procura incessante, na rua, de um sexo que complete o amor vivido dentro de casa. Mas, no decorrer de conversas entre amigas, geralmente o que mais agrada no momento do coito é o sexo ávido, aguerrido, voraz, conservando os instintos animais contidos em cada um. Isso explica a procura incessante das mulheres por homens que, ao contrário de seus parceiros, não acham que fazer amor seja fazer somente carinho, que quando se ama, o sexo precisa ser delicado e respeitoso. Esse ruído na comunicação entre os casais, advindo do distanciamento entre amor e sexo, acaba fazendo com que relacionamentos caminhem por estradas tortuosas da dúvida, vivendo de conceitos vãos e retrógrados.
Felizmente, em pleno terceiro milênio podemos viver tranquilamente, com as devidas medidas de prevenção, as experiências cinestésicas e prazerosas do sexo sem amor, sem afeto, sem compromisso com quaisquer sentimentos, perpassando pela saciedade dos nossos desejos. Entretanto, se soubermos associar ao nosso sexo o velho romantismo, com direito a paixão, amor e todas as suas variações, viveremos a transa de maneira mais intensa e completa. O que se precisa é aceitar o sexo como uma das várias práticas estabelecidas pelo relacionamento humano, desmistificando a sua existência na ausência do amor, do matrimônio, dos afagos ao âmago do nosso ser, mas o encarando como ato prazeroso, por vezes desagradável, é claro, mas extremamente natural à nossa existência.
           Sendo assim, ficam as dúvidas: como comparar um sentimento como o amor com um ato como sexo? Como estabelecer uma relação de proximidade entre as duas “coisas” sem deixar que cada uma perca sua essência e especificidade? Não sei. Mas, felizmente, hoje em dia, podemos discutir abertamente sobre os dois, sem sermos repelidos pelos moralistas que pareciam não praticar nem um nem outro.

Norhan Sumar
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O sentimento, o ato e o hiato entre os dois de Norhan Sumar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.

6 comentários:

Mariana Isaac disse...

Ahhhh muito legal... que leitura gostosa, me provocou risos...rsrsrs!!! Adorei!!

Unknown disse...

Muuuito legal o texto.
Esta´de Parabéns! xD

Anônimo disse...

Em relação ao texto, nem todas as mulheres pensam da forma descritas no texto, entretanto como infelizmente o mundo ainda continua com o espírito machista, muitas delas acaba por não se abrir com o seu parceiro, e muita das vezes por essa atitude ela acabam sendo traídas e jogando o seu relacionamento no ralo.

Norhan Sumar disse...

[...] hoje em dia, podemos discutir abertamente sobre os dois, sem sermos repelidos pelos moralistas que pareciam não praticar nem um nem outro [...] Não se trata de machismo ou feminismo. Essa seria outra discussão.

Mariana Isaac disse...

falou tudo bonito! Aprendeu com quem isso?? rs...
Bjos

carmen Luzia disse...

AMEI!
Poético, intenso, inspirado...só cabem adjetivos.
LINDO!A cada dia me entusiasmo mais com suas opiniões. Perfeito!!Sucesso p vc querido!!

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