quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que mal há?

Que mal há em estar “satisfazido” quando se acaba de comer?  Ou ter “trago” algo que deveria ter trazido? Quiçá ter “vido” algo que deveria ver?
Quão ruim pode ser não saber “gramaticar” perfeitamente, mas estar contente com a lasca de carne que se tem entre os dentes? Se é cobrado dos que tiveram “menas” chance, porque não cobrarmos dos que tem menos vontade de mudar mesmo que tenham nas mãos o poder?
Ah, pois então que “seje” mais cobrado a perfeição na verborréia da nossa língua pátria, ainda que a “própia” pátria não seja exemplo de perfeição para quem representa o seu crescimento através do trabalho.
Tamanha “hipocresia” me parece “meia” demasiada. O que se espera dos brasileiros? Quem são os brasileiros? Nascer aqui faz de “eu” um cidadão? Sei lá, quem sabe? Talvez esse seja um dos vários direitos que um cidadão de fato adquire ao nascer. Talvez esse nosso solo generoso aos tantos e as tantas, perdoe facilmente uns dinheiros aqui e “aculá”, uns desvios do nosso pão prestes a adentrar a cavidade oral de um escolar, diretamente para o bolso de um bem vestido e letrado político.  
Pior do que a falta de algum “s”, algum “r” no lugar do “l”; pior do que a falta de um discurso de garbo, dotado das mais nobres regras gramaticais desse nosso português, é a falta de caráter. Pior do que não saber falar, é não saber o que falar.
Não culpemos os que falam à sua maneira, errônea ou não, pela falta da concordância verbal. Culpemos a todos nós, que optamos por viver alheios aos problemas que nos circundam, que temos a chance de fazer as escolhas que determinarão o futuro verbal e vital dos que ainda estão por vir. Culpemo-nos por fazer tão pouco diante do tanto que poderíamos fazer. E, além disso, observar, como espectadores sedentários e sensacionalistas as tantas mazelas em que nossa sociedade se afunda, ousando, sem o mínimo esforço e conhecimento de causa, sugerir os caminhos para mudança.
                                              
                                                                                  Norhan Sumar  
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