domingo, 24 de abril de 2011

Proximidade distante


A vida te sorri o dia, ainda que esteja escuro. A morte carrega a indumentária fria, arrastada pelas lágrimas e lamúrias dos que não estão dispostos a receber sua visita.
As duas, tão próximas e tão distintas, separadas pela linha tênue que pode representar o último suspiro; de mãos dadas, elas nos observam, selecionando criteriosamente um a um os que farão parte de seus seletos times.
A vida nunca é privilégio de um só. Existe a família, os amigos, os inimigos, os clientes, os fornecedores – olhares que esperam enxergar em você a vida. Altruísta por si só. Já a morte, solitária, te tira sem possibilidade de negociação o mais basal dos direitos: existir. Almas e crenças a parte, foi-se o corpo, foi-se o que chamamos de vida. “Vivemos” a morte sozinhos, deglutindo a sua presença como quem tenta se deliciar com um pão velho sem o benefício da mastigação e ajuda da água. Amarga, mesmo quando vem cessar o sofrimento de viver nas piores condições.
A morte, inevitável, ainda assola o sono de quem acha que tem vida. Preocupamo-nos com o vento frio que trará a morte sem nos dar conta que o acalento da vida só entra na sala de estar do nosso peito se for convidada. Não é preciso de vida para simplesmente existir; mas é preciso se permitir para que haja vida.
Não se deixe levar pelo pesar de precisar negociar com a morte momentos a mais de suspiros falsos e sorrisos forçados; ela não te dará muitas opções. Negocie com a vida todos os sorrisos e desejos que te conduzem a satisfação e alegria, sempre que puder. Para que quando a vida sair de cena, você não precise permanecer no palco tentando um papel sem luz, de cortinas fechadas se a morte trouxer o final da história.
Norhan Sumar

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