sexta-feira, 11 de maio de 2012

Primeira viagem


Todo aquele cenário parecia ter sido montado para o momento. A forma que ele tinha de me tocar expressava o que vinha adiante. Nossos olhares se cruzavam em cada toque e ali ficava explícita a minha insegurança. E ele, ah... Ele era muito habilidoso em transmitir todo o seu conhecimento sobre o meu corpo – provavelmente não só o meu. A luz sobre nós iluminava o ambiente de uma forma cuidadosa, capaz de não deixar escapar o mínimo detalhe – confesso que me fez sentir ressabiada e tímida em alguns momentos. “Aquela era a hora”, insistia ele, afinal, já estávamos juntos há alguns meses. Todos aqueles encontros, aqueles contatos e descobertas. Sorrimos juntos, choramos juntos, embora ele sempre comedido, ocultasse as lágrimas atrás de um sorriso admirável de quem compreendia o meu momento. Tudo era favorável, eu queria que fosse a hora, e queria que fosse ele, mas compreendam o meu medo, era a minha primeira vez. Não é tão simples enfrentar a primeira vez com segurança de que tudo será indolor e harmônico. Ao menos não foi assim que Telma me contou a sua própria experiência. Ela disse que nunca mais pisou naquele lugar. E mais, nunca teve interesse de ligar praquele crápula. Já no meu caso, tudo parecia perfeito, a pessoa certa, o momento certo, o ambiente favorável, só faltava uma música. “Mas para que?” perguntava ele. Então começamos – despida, deitada a sua espera, exposta às suas próprias vontades, vulnerável e frágil, estava eu, com os mamilos protuberantes, suplicando por algo a protegê-los do gelo que se fez ali, sentindo a minha genitália pulsante, inchada, cada vez mais úmida. Ele começou conversando comigo, sorrindo um pouco e me deixando tranqüila, tocando meu ventre em leves carícias, fazendo movimentos coordenados, simétricos e confesso que relativamente prazerosos; e, contrariando a calma anterior, sem muita cerimônia juntou o indicador e o dedo médio e num único movimento, sincronizado e pericial, introduziu os dois dedos na minha vagina sem olhar nos meus olhos – ainda não havia dor, somente dúvida. Ele conduziu tudo tecnicamente, Paulo era o nome dele inclusive, alheio a qualquer movimentação que não fosse a minha, a nossa, ele continuou. Conversava comigo enquanto eu gemia, me contorcia de dor, e continuou até ouvir o aquele grunhido de prazer e desprazer, a sinonímia mais perfeita que o choro pode ter, o primeiro conflito entre felicidade e tristeza - nasceu. Fora um parto natural, sem complicações graças às habilidades de Paulo – Dr. Paulo se preferirem. Decidimos tudo no último encontro em seu consultório. Ele, ainda muito habilidoso prosseguiu rompendo os laços físicos entre mim e a minha nova razão de vida, aguardou a expulsão da placenta e finalmente a entregou para uma Técnica em Enfermagem que trouxe até meu colo a expressão mais profunda do meu prazer, minha cria, minha filha. 
Norhan Sumar

1 comentários:

Igor Mozer disse...

qualidade!!!!
tinha que ser meu amigo, meu irmao, Norham Sumar!!!

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