Todo aquele cenário parecia ter sido montado
para o momento. A forma que ele tinha de me tocar expressava o que vinha
adiante. Nossos olhares se cruzavam em cada toque e ali ficava explícita a
minha insegurança. E ele, ah... Ele era muito habilidoso em transmitir todo o
seu conhecimento sobre o meu corpo – provavelmente não só o meu. A luz sobre
nós iluminava o ambiente de uma forma cuidadosa, capaz de não deixar escapar o
mínimo detalhe – confesso que me fez sentir ressabiada e tímida em alguns
momentos. “Aquela era a hora”, insistia ele, afinal, já estávamos juntos há
alguns meses. Todos aqueles encontros, aqueles contatos e descobertas. Sorrimos
juntos, choramos juntos, embora ele sempre comedido, ocultasse as lágrimas
atrás de um sorriso admirável de quem compreendia o meu momento. Tudo era
favorável, eu queria que fosse a hora, e queria que fosse ele, mas compreendam
o meu medo, era a minha primeira vez. Não é tão simples enfrentar a primeira
vez com segurança de que tudo será indolor e harmônico. Ao menos não foi assim
que Telma me contou a sua própria experiência. Ela disse que nunca mais pisou
naquele lugar. E mais, nunca teve interesse de ligar praquele crápula. Já no
meu caso, tudo parecia perfeito, a pessoa certa, o momento certo, o ambiente
favorável, só faltava uma música. “Mas para que?” perguntava ele. Então
começamos – despida, deitada a sua espera, exposta às suas próprias vontades,
vulnerável e frágil, estava eu, com os mamilos protuberantes, suplicando por
algo a protegê-los do gelo que se fez ali, sentindo a minha genitália pulsante,
inchada, cada vez mais úmida. Ele começou conversando comigo, sorrindo um pouco
e me deixando tranqüila, tocando meu ventre em leves carícias, fazendo
movimentos coordenados, simétricos e confesso que relativamente prazerosos; e,
contrariando a calma anterior, sem muita cerimônia juntou o indicador e o dedo
médio e num único movimento, sincronizado e pericial, introduziu os dois dedos na
minha vagina sem olhar nos meus olhos – ainda não havia dor, somente dúvida.
Ele conduziu tudo tecnicamente, Paulo era o nome dele inclusive, alheio a
qualquer movimentação que não fosse a minha, a nossa, ele continuou. Conversava
comigo enquanto eu gemia, me contorcia de dor, e continuou até ouvir o aquele grunhido
de prazer e desprazer, a sinonímia mais perfeita que o choro pode ter, o
primeiro conflito entre felicidade e tristeza - nasceu. Fora um parto natural, sem complicações graças às
habilidades de Paulo – Dr. Paulo se preferirem. Decidimos tudo no último
encontro em seu consultório. Ele, ainda muito habilidoso prosseguiu rompendo os
laços físicos entre mim e a minha nova razão de vida, aguardou a expulsão da
placenta e finalmente a entregou para uma Técnica em Enfermagem que trouxe até
meu colo a expressão mais profunda do meu prazer, minha cria, minha filha.
Norhan Sumar
1 comentários:
qualidade!!!!
tinha que ser meu amigo, meu irmao, Norham Sumar!!!
Postar um comentário