domingo, 16 de janeiro de 2011

Mário & Ana

Mário e Ana se amavam (ou se enganavam) de verdade. Mário era um rapaz bonito! Magro, branco de cabelos negros como a noite, Alto o bastante para olhar por cima boa parte dos homens de sua cidade, sorriso e olhares enganosamente confiantes, traços que se enquadravam nos padrões de beleza procurado por muitos - ou muitas. Além da ideologia política comunista, que no caso de Mário era apenas um subterfúgio para o ócio, ele não se ocupava com outros afazeres profissionais. Mergulhava nos conceitos de Capitalismo e alienação pelo trabalho mencionados por Marx e justificava a sua improdutividade com argumentos pouco eloquentes e demasiado retóricos - geralmente nas portas de bares.

Ana era o oposto. Não no que diz respeito a beleza. Ela era ainda mais bela! Graciosa, morena, encantava a todos com seu sorriso largo que lhe corava as bochechas, sua estatura mediana que passava um pouco de 1.60 m, seu olhar expressivo, a harmonia de seu rosto envolto pelos cachos que se seguiam até a cintura acompanhando as curvas simétricas e perfeitas de seu corpo. Ela, apesar de ideais parecidos com os dele, era uma aplicada estudante universitária e uma profissional dedicada no que se propunha a fazer. Acreditava que a mudança advém da instrumentalização pelo conhecimento e "mão na massa" e não apenas pela reflexão acerca de teorias.

Ela dizia amá-lo, mas não sentia mais necessidade de ser sua mulher. Ele sabia disso, mas preferia tê-la insatisfeita e mal amada do que vê-la entregar-se ao amor de outro.
Mário era o egoísta... Ana, a generosa! Permaneciam juntos, acreditando que poderiam ludibriar os olhos atentos do comodismo; burlar a repressão da rotina e desafogar o amor no mar de tédio e falta de afeto.
"Já falei que não te quero conversando com aquele otário!" Quase sempre se deixava levar pela insegurança segura de que ela não mais o amava como homem.
"Mário, ciúmes não combinam nada com você." Indiferente, ela respondia.
"Você já não me ama mais? Mas eu te dou um tempo pra pensar, você deve estar confusa... Você é ridícula! Como pode me fazer sofrer assim? Logo eu que fiz tudo por você, estive com você nos momentos mais difíceis... Você não vai encontrar alguém que te ame como eu amo..."
Ela chorava... Sem amor, sem paixão... Pena!
O curioso é que permaneciam juntos. Mesmo sabendo que aquela nau estava fadada ao naufrágio; enxergando que nada supera o desgaste do tempo mal aproveitado. Ela, ao contrário dele, não vivia, não traia, não amava. Ela já não sabia mais amar. Só vivia o doce sabor da felicidade que o mundo lá fora lhe podia oferecer quando rompia seus laços com ele. Mas, diante do próximo choro, reatava-se: tristeza...
Norhan Sumar 

1 comentários:

Anônimo disse...

Curioso, será possível, você ser um advinho? Cá estou, assim, amarrada ao Mário e nesse vai e vem dos anos, ainda não tive forçcas para alçar vôos mais altos, mesmo embora eles volta e meia teimem a colorir os meus pensamentos! Hoje, Mário ainda me disse ao levantar: Amorzão, eu te amo! Sim, infelizmente, essas três palavras não têm mais o sentido verdadeiro mas pode adptar-se ao referencial de cada um: - no caso, seria como até breve!
O circunlóquio do nosso dia-a-dia, é assim: eu te amo de cá e eu te amo dali, e nesse cirandar a verdade vai ficando desbotada, empoeirada, esquecida num canto da sala, dos quartos, da cozinha, dos banheiros, da área externa, do condomínio, da cidade dentro da outra cidade e dentro do estado e dentro do país!
Abraços fraternos!
Ana& Mário.

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