quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As vitrines da superficialidade

Pra falar a verdade, eu já estava incomodado com isso, então confidenciei a uma grande amiga o fato de achar todas as pessoas que eu me envolvia desinteressantes o bastante para eu não querer levar nada a frente. Confesso que não havia falado sobre isso com mais ninguém. Principalmente por concordar com ela ao achar que as minhas exigências deveras limitadoras me distanciavam de qualquer possibilidade de construir uma história com algum ser humano que exista nessa dimensão.
Só para deixar claro: eu estou longe de querer a perfeição. Na verdade, acho a perfeição meio chata, monótona e até utópica. Uma coisa hollywoodiana inalcançável, mas que insistimos em buscar.
E ultimamente os comportamentos se tornaram tão estáticos, superficiais, que se torna difícil até conhecer alguém que você acredita ser interessante. Passados alguns anos em uma juventude de boemia quase desenfreada, acredito que eu tenha “enchatecido” quando analisei as situações de uma forma diferente.
Nas noites de hoje as mulheres parecem estar em uma vitrine, esperando um consumidor com um pagamento (ou argumento, depende da mulher... E do homem também, é claro) capaz de comprar algumas de suas palavras e um pouco de sua atenção. Ou algum corajoso disposto a gastar a verborréia e a persuasão para fazer com que ela fique com ele por alguns instantes ou fique mais valorizada ainda frente às outras concorrentes da “prateleira”.
Não é uma crítica a quem gosta de sair à noite, até porque eu também gosto. Tampouco uma crítica a quem conheceu o amor da sua vida no auge do “batidão” às três da manhã. Todavia, acredito que o flerte, a troca de olhares, as conversas e os momentos para conhecer alguém não precisam ter hora e dia marcados, onde nós nos arrumamos e “vamos á caça” como os homens geralmente fazem. E se você é mulher e sai à noite para dançar, achando que não se comporta dessa forma, acredite: você o faz. Se estiver dançando, quer queira quer não, será um dos produtos da extensa vitrine observada por consumidores ávidos pelo seu desfrute. Mesmo que não esteja “à venda”.
É claro que eu concordo que nós sempre nos comportamos assim, desde que alguém aumentou o som e falou que aquilo era uma festa. Mas as coisas hoje estão deturpadas ou ao menos diferentes demais para minha compreensão. As pessoas vivem o dia-a-dia como se ele não fosse mais importante do que os breves momentos com as luzes piscando na pista de dança. Elas não olham quem está sentado ao lado nas praças, elas sequer sentam nas praças; não percebem que alguém está olhando diferente ou que alguém diferente está olhando; muitas pessoas, sem notar, não se dão ao luxo de flertar nas ruas, até porque isso tem hora e lugar marcados (para elas); alguns outros não tentam manter um diálogo com alguém por mais de 10 minutos durante o dia, embora tenham o melhor dos discursos fotográficos - parece que eles guardam as falas na carteira - para atingir a incrível marca de dezenas de beijos na boca em uma só noite. E isso não é coisa só de adolescente, a não ser que a adolescência dure até os 30 anos e eu não saiba. Por essas e outras eu acredito que esteja tudo diferente. Nós estamos perdendo o hábito de nos relacionarmos naturalmente com as outras pessoas.
Enfim, não que essas pessoas estejam erradas. Afinal, gosto não se discute. Talvez essa seja mais uma de minhas exigências infundadas me servindo de subterfúgio para continuar achando natural não prosseguir em um relacionamento com alguém que pareça mais normal que eu.
Norhan Sumar
Licença Creative Commons
As vitrines da superficialidade de Norhan Sumar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.

4 comentários:

André disse...

Na medida. Muito bom!

Hora de acordar, hora de comer, hora de estudar, hora disso hora daquilo e hora de se relacionar. É bem verdade, os relacionamentos vêm se restringindo ao automatismo incessante das atividades modernas. Estamos cegos e cremos que não.
A vida segue perdendo sua sensualidade, sua inocência.

Forte Abraço Norhan!

Anônimo disse...

Apoiado!

Quando as coisas acontecem naturalmente, é porque tinham que acontecer.
Mas quando forçamos a barra, as coisas não irão durar. Repare...

Deixe a vida fluir, e ela fluirá.

Agatha Bresciani

Nathyfa disse...

Estamos nas prateleiras, querendo ou não. Hoje é assim. Exigentes demais?? Acho que não... Talvez somos o pouco dos que ainda lembram do simples, do natural e do tocável. Talvez, os produtos mais caros,mais elaborados...aqueles que são dificeis de manusear ou que se tenha que fazer um esforço pra ter. O mundo hoje é do fácil... só que ninguem percebeu ainda que o fácil de hoje é instantaneo,descartavel e plastico.
Enchateci, voltei a mim, me retirei, mas ainda estou aqui e o que tiver de ser, será.
A amiga sou eu? Acredito que sim.
Se houver outra, que se apresente. Vamos filosofar. hahaha

Um beijo e um abraço, dos sempre, apertados.
=*

Nathyfa disse...

Estamos nas prateleiras, querendo ou não. Hoje é assim. Exigentes demais?? Acho que não... Talvez somos o pouco dos que ainda lembram do simples, do natural e do tocável. Talvez, os produtos mais caros,mais elaborados...aqueles que são dificeis de manusear ou que se tenha que fazer um esforço pra ter. O mundo hoje é do fácil... só que ninguem percebeu ainda que o fácil de hoje é instantaneo,descartavel e plastico.
Enchateci, voltei a mim, me retirei, mas ainda estou aqui e o que tiver de ser, será.
A amiga sou eu? Acredito que sim.
Se houver outra, que se apresente. Vamos filosofar. hahaha

Um beijo e um abraço, dos sempre, apertados.
=*

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