Faz algum tempo que eu a conheci, com sua recepção calorosa e gélida ao mesmo tempo, com seus comportamentos atípicos, com uma dinâmica diferente da que eu conhecia até ali. Mesmo tendo vivido bastante tempo perto dela sem saber, eu fui apresentado a ela nos primeiros anos de uma adolescência fugaz e bem vivida.
Quando me fora apresentada a Serra Natal, com o clima que convida à noites geladas e manhãs mais geladas ainda, principalmente para um estudante de dez anos, habituado à correria do Rio de Janeiro e aos calores da baixada fluminense, confesso que não morria de amores por ela. Confesso até que essa Serra Natal, antes chamada por mim de Petrópolis, não me conquistava nem mesmo com sua melhor virtude – e que eu nem queria saber qual era.
Inusitadamente, aquela jangada fadada ao naufrágio em que eu achava estar embarcando, foi ganhando força com seus tripulantes bem educados, onde curiosamente as pessoas que nem me conheciam me desejavam “bom dia” na espera pela condução. Ou que, para minha surpresa, as ruas desse lugar eram limpas de fato; pelo frio cortante da manhã que dava licença ao sol e a um calorzinho aconchegante e acolhedor; pelas caminhadas, rodeadas por prédios e praças que conservam beleza e charmes seculares; pela oportunidade ímpar de andar pela rua na adolescência sem que o fantasma da violência assombrasse demasiadamente os que me educavam. A lista de motivos é imensa e agradável, mas vamos à continuação deste texto.
Há quem diga que esta não seja terra das oportunidades, tampouco o melhor lugar para um boêmio saciar seus desejos impávidos pela noite. Todavia, há de se considerar os breves cinqüenta minutos que nos separam da capital do estado, com todas as suas oportunidades e seu leque variado de opções para a boemia.
Sou um defensor ávido das belezas e dos prazeres do Rio de Janeiro, da agitação convidativa, das noites estreladas e do bom-humor intrínseco desse povo que tinha todos os motivos necessários para viver a contragosto e na contramão disso tudo. Mas sou tomado por uma paz interna ao voltar para Serra Natal, uma paz de ver que a loucura e agitação podem acabar em apenas uma hora de viagem; uma paz em sair de casa sem pretensão e encontrar amigos de infância; a paz advinda do clima provinciano, que muitos deturpam dizendo que esse clima está relacionado a mania feia de alguns que cuidam da vida alheia com mais afinco do que cuidam da própria. Esse não é um problema do clima, é um problema do ser humano.
E foi assim que ela me conquistou: gélida como uma mulher acostumada a ser traída, calorosa como uma mulher apaixonada, receptiva como uma avó que recebe os netos cheia de doces e quitutes, charmosa como uma mulher que está sempre pronta para o mais importante dos encontros, calma como a mais experiente das mulheres, alternativa como uma jovem hippie e, sobretudo, linda como a que faz palpitar o meu coração apaixonado.
Norhan Sumar
A bela e a Serra de Norhan Sumar é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
4 comentários:
dei RT
pra geral ler
o senhor realmente tem o dom
Uma coisa que acho incrível... todo mundo que vem de fora pra cá acaba com essa boa impressão da cidade, mas vive a vida inteira aqui, como eu, já não vê todo esse encanto.
É interessante essa diferença, eu já não vejo tanta coisa boa aqui faz tempo.., só o frio.. ahh...amo as manhãs geladas.. :)
É amigo, sempre tem uma mulherzinha no final de tudo, ne? huahauhaua.
Sempre um encantamento passar por aqui, figurinha cativa aqui no teu blog.
E sim, concordo com tudo descrito, Petrópolis é realmente encantadora, ahh planos de outrora e eu indo me embora praí... Um dia rola, e a gente só desce pra cair na boemia. huahuaa
Te amo, amigo!
KKKKK, essa cidade é asim mesmo como descreveu, perfeito...mas tem que ter mulher no final???
Bricadeirinha... Ameiii.Te amo, bjs.Tie Rô
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